Dilma Rousseff, numa entrevista por email ao DN, reafirma que foi vítima de um golpe, critica "o retrocesso" do governo Temer e diz-se disposta a participar ativamente na campanha de Lula da Silva em 2018, talvez até como candidata a um cargo.
Um ano e um mês depois da consumação do impeachment, a ex-presidente do Brasil voltou a ser notícia ao anunciar que ia pedir à anulação do processo, com base na delação de um operacional detido na Operação Lava-Jato, Lúcio Funaro, que disse ter pago a deputados para votarem pela queda de Dilma.
Ainda pensa que a história lhe vai dar razão?
Não há a menor dúvida que a história reconhecerá o caráter golpista, manipulador e corrupto do impeachment e do governo daí resultante. Hoje, algumas coisas estão claras: o quórum para o impeachment foi obtido graças a compra de votos de parlamentares pelo ex-presidente da Câmara [deputado Eduardo Cunha], os mesmos votos que hoje sustentam a impunidade do presidente ilegítimo.
Porque, na sua opinião, houve o que chama de "golpe"?
O objetivo de políticos conservadores, com o apoio de setores do mercado financeiro e dos media, era implantar o projeto derrotado pelas urnas nas quatro últimas eleições. Desde 2003, com a eleição de Lula, interromperam-se as reformas neoliberais no Brasil e as privatizações que vinham acontecendo pela América Latina nos setores bancários, nas áreas do petróleo e gás, energia elétrica, água. A partir daí, o desenvolvimento económico foi acelerado e produziu-se extraordinária redução das desigualdades sociais. Fracassos sucessivos nas eleições produziram inconformismo entre os derrotados e construíram a convicção de que era necessário interromper a democracia para enquadrar o Brasil económica, social e geopoliticamente no neoliberalismo. Daí a necessidade do impeachment, aproveitando a crise económica mundial, que finalmente acabara por atingir os emergentes.
Um ano depois, como tem observado o governo Temer?
Sem dúvida, a decisão do teto dos gastos [limite ao investimento em saúde e educação por 20 anos] é de colocar os "cabelos em pé" por retirar do Orçamento os mais pobres ao longo de cinco eleições presidenciais. É inconstitucional. Os motivos para arrepiar cabelos continuam: a reforma laboral que reduz salários, a venda de terras férteis a estrangeiros e de património público das grandes empresas estatais ou a abertura de áreas protegidas pelo meio ambiente e de territórios indígenas à exploração mineral. Como ápice, o recente decreto do trabalho escravo que torna o Brasil tolerante com o trabalho análogo à escravidão.
Sente as suas ideias amparadas nas visitas internacionais que tem realizado?
Há uma clara avaliação internacional de que ocorreu um golpe no Brasil. Universidades, sindicatos, imprensa, redes sociais, partidos e lideranças com quem tenho tido contactos consideram que foi dado um golpe parlamentar no Brasil, embora diferente dos antigos golpes militares típicos da realidade latino-americana do período da Guerra Fria. Mas há, também, uma enorme esperança que o povo e a sociedade brasileiras retomem o processo democrático em 2018 para permitir a volta do crescimento e da inclusão de milhões de cidadãos.
Mas concorda que a economia tem melhorado?
Não sei em que dados se ancora a sua pergunta. Os grandes media que lideraram o golpe tentam criar uma expectativa de recuperação, depois de propagandear que bastava afastar a presidente eleita para que tudo fosse resolvido. Agora, a crise económica atinge dimensões de recessão, o desemprego cresce a níveis estratosféricos e a crise orçamental explode.
Vai participar na campanha de Lula?
Vou. Acredito que a candidatura de Lula em 2018 é imprescindível para assegurar o caráter democrático do pleito e garantir o futuro e a esperança de milhões. Ao darem o golpe, os golpistas pensavam que nos destruiriam, mas quem acabou destruído foram os partidos conservadores, PSDB e PMDB, fortalecendo um candidato de extrema-direita [Jair Bolsonaro]. Agora, a aposta dos golpistas é a condenação de Lula para impedi-lo de concorrer porque, em todos os cenários, ele tem o dobro das intenções de voto dos demais concorrentes somados.
Mas com alta rejeição.
Não, a rejeição vem caindo devido à consciência de que há uma perseguição a Lula. Nenhuma saída que tenha por objetivo impedir a sua candidatura produzirá estabilidade. O que está em jogo hoje é o que vai ser o futuro do país. Lula cumprirá nessa conjuntura um papel muito importante, porque a sua liderança tem o poder de catalisar a resistência ao golpe e impedir o avanço do desmonte das políticas sociais que implantamos. Nós estamos trabalhando para denunciar o projeto absurdo de tentar condenar Lula de qualquer maneira e impedi-lo de ser candidato, mas como ele diz, "participo dessa eleição absolvido ou condenado, livre ou preso e vivo ou morto".
E já decidiu se participa ativamente em 2018, como candidata ao Senado ou à Câmara?
Vou avaliar. Minha única certeza é de que estarei na luta, aconteça o que acontecer. Vivi dois golpes, sobrevivi aos dois, nunca fui candidata antes de disputar a Presidência da República e sempre fiz política. Vou continuar fazendo. Este é o caminho para conter o retrocesso. Reitero: o momento é grave, mas ainda há tempo de salvar a nossa jovem democracia e promover a retomada da economia. A palavra é legitimidade. Um banho de legitimidade para lavar a alma do Brasil. Para isso, "Diretas, Já".
Um ano e um mês depois da consumação do impeachment, a ex-presidente do Brasil voltou a ser notícia ao anunciar que ia pedir à anulação do processo, com base na delação de um operacional detido na Operação Lava-Jato, Lúcio Funaro, que disse ter pago a deputados para votarem pela queda de Dilma.
Ainda pensa que a história lhe vai dar razão?
Não há a menor dúvida que a história reconhecerá o caráter golpista, manipulador e corrupto do impeachment e do governo daí resultante. Hoje, algumas coisas estão claras: o quórum para o impeachment foi obtido graças a compra de votos de parlamentares pelo ex-presidente da Câmara [deputado Eduardo Cunha], os mesmos votos que hoje sustentam a impunidade do presidente ilegítimo.
Porque, na sua opinião, houve o que chama de "golpe"?
O objetivo de políticos conservadores, com o apoio de setores do mercado financeiro e dos media, era implantar o projeto derrotado pelas urnas nas quatro últimas eleições. Desde 2003, com a eleição de Lula, interromperam-se as reformas neoliberais no Brasil e as privatizações que vinham acontecendo pela América Latina nos setores bancários, nas áreas do petróleo e gás, energia elétrica, água. A partir daí, o desenvolvimento económico foi acelerado e produziu-se extraordinária redução das desigualdades sociais. Fracassos sucessivos nas eleições produziram inconformismo entre os derrotados e construíram a convicção de que era necessário interromper a democracia para enquadrar o Brasil económica, social e geopoliticamente no neoliberalismo. Daí a necessidade do impeachment, aproveitando a crise económica mundial, que finalmente acabara por atingir os emergentes.
Um ano depois, como tem observado o governo Temer?
Sem dúvida, a decisão do teto dos gastos [limite ao investimento em saúde e educação por 20 anos] é de colocar os "cabelos em pé" por retirar do Orçamento os mais pobres ao longo de cinco eleições presidenciais. É inconstitucional. Os motivos para arrepiar cabelos continuam: a reforma laboral que reduz salários, a venda de terras férteis a estrangeiros e de património público das grandes empresas estatais ou a abertura de áreas protegidas pelo meio ambiente e de territórios indígenas à exploração mineral. Como ápice, o recente decreto do trabalho escravo que torna o Brasil tolerante com o trabalho análogo à escravidão.
Sente as suas ideias amparadas nas visitas internacionais que tem realizado?
Há uma clara avaliação internacional de que ocorreu um golpe no Brasil. Universidades, sindicatos, imprensa, redes sociais, partidos e lideranças com quem tenho tido contactos consideram que foi dado um golpe parlamentar no Brasil, embora diferente dos antigos golpes militares típicos da realidade latino-americana do período da Guerra Fria. Mas há, também, uma enorme esperança que o povo e a sociedade brasileiras retomem o processo democrático em 2018 para permitir a volta do crescimento e da inclusão de milhões de cidadãos.
Mas concorda que a economia tem melhorado?
Não sei em que dados se ancora a sua pergunta. Os grandes media que lideraram o golpe tentam criar uma expectativa de recuperação, depois de propagandear que bastava afastar a presidente eleita para que tudo fosse resolvido. Agora, a crise económica atinge dimensões de recessão, o desemprego cresce a níveis estratosféricos e a crise orçamental explode.
Vai participar na campanha de Lula?
Vou. Acredito que a candidatura de Lula em 2018 é imprescindível para assegurar o caráter democrático do pleito e garantir o futuro e a esperança de milhões. Ao darem o golpe, os golpistas pensavam que nos destruiriam, mas quem acabou destruído foram os partidos conservadores, PSDB e PMDB, fortalecendo um candidato de extrema-direita [Jair Bolsonaro]. Agora, a aposta dos golpistas é a condenação de Lula para impedi-lo de concorrer porque, em todos os cenários, ele tem o dobro das intenções de voto dos demais concorrentes somados.
Mas com alta rejeição.
Não, a rejeição vem caindo devido à consciência de que há uma perseguição a Lula. Nenhuma saída que tenha por objetivo impedir a sua candidatura produzirá estabilidade. O que está em jogo hoje é o que vai ser o futuro do país. Lula cumprirá nessa conjuntura um papel muito importante, porque a sua liderança tem o poder de catalisar a resistência ao golpe e impedir o avanço do desmonte das políticas sociais que implantamos. Nós estamos trabalhando para denunciar o projeto absurdo de tentar condenar Lula de qualquer maneira e impedi-lo de ser candidato, mas como ele diz, "participo dessa eleição absolvido ou condenado, livre ou preso e vivo ou morto".
E já decidiu se participa ativamente em 2018, como candidata ao Senado ou à Câmara?
Vou avaliar. Minha única certeza é de que estarei na luta, aconteça o que acontecer. Vivi dois golpes, sobrevivi aos dois, nunca fui candidata antes de disputar a Presidência da República e sempre fiz política. Vou continuar fazendo. Este é o caminho para conter o retrocesso. Reitero: o momento é grave, mas ainda há tempo de salvar a nossa jovem democracia e promover a retomada da economia. A palavra é legitimidade. Um banho de legitimidade para lavar a alma do Brasil. Para isso, "Diretas, Já".
Comentários
Enviar um comentário