Negócios de armas põem Israel na mira de grupos de Direitos Humanos

Grupos de defesa dos Diretos Humanos estão empenhados em expor o longo historial de Israel no fornecimento de armas e treino militar a regimes que estão ativamente a cometer massacres, limpeza étnica e genocídio, entre eles o Exército de Myanmar. 
 
Perante a fuga de quase um milhão de muçulmanos Rohingya para o Bangladesh desde o final de Agosto, na sequência de uma campanha sangrenta das forças birmanesas para os expulsar do estado de Rakhine, foi revelado recentemente que Israel tem estado a vender armas à antiga Birmânia, num passo que contraria o embargo de armamento imposto ao país pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

O Estado hebraico continua sem revelar os detalhes das suas ligações ao governo militar de Myanmar, mas documentos públicos citados pelo jornalista Jonathan Cook demonstram que tem estado não só a vender armas e equipamento de vigilância ao país como a treinar as forças especiais birmanesas, já acusadas de "limpeza étnica" pela ONU.

No final de setembro, o Supremo Tribunal israelita analisou uma petição apresentada por ativistas na qual exigiam ao governo nacionalista de Benjamin Netanyahu que suspendesse o comércio de armas para Myanmar. O veredito permanece em segredo até hoje a pedido do Estado hebraico, que perante o painel de juízes argumentou na altura que o Judiciário não tem qualquer palavra a dizer sobre a quem Israel deve ou não vender armas.

Vários grupos de Direitos Humanos estão agora a planear um protesto a 30 de outubro frente ao parlamento israelita (knesset) para pressionar Netanyahu a suspender a venda de armamento à antiga Birmânia.

A par do apoio hebraico ao Exército daquele país asiático, empresas israelitas têm estado igualmente a vender armas e equipamentos a milícias do Sudão do Sul, na prática ignorando a posição dos EUA e da Europa quanto ao conflito que estalou na jovem nação no final de 2013 e que já provocou pelo menos 300 mil mortos.

"Há muitos Estados ocidentais a vender armas, mas o que é único com Israel é que, onde quer que haja crimes de guerra e crimes contra a humanidade a serem cometidos, Israel está presente", refere à Al-Jazeera Eitay Mack.

Nas últimas semanas, o advogado israelita entregou uma série de petições em tribunais hebraicos para tentar forçar o seu país a divulgar pormenores sobre estes acordos de armamento. "As empresas que vendem as armas e os oficiais que, em silêncio, aprovam estas trocas têm de ser responsabilizados. Caso contrário, porque é que isto haveria de acabar?"

Mack garante que o conluio de Israel com as forças de Myanmar é apenas um exemplo de como o país tem passado as últimas décadas a apoiar regimes criticados, o que denota a importância do comércio de armas para a economia hebraica. Só este verão, as autoridades de Defesa israelitas aprovaram 99,8% dos pedidos de licenças para a exportação de armamento.

A par de Myanmar e do Sudão do Sul, o Estado hebraico é suspeito de ter fornecido armas de forma clandestina a Exércitos e grupos armados que desempenharam papéis em episódios de genocídio e limpeza étnica em conflitos como o Ruanda, Balcãs, Chile, Argentina, Sri Lanka, Haiti, El Salvador e Nicarágua. Mack sublinha que Israel passou ainda vários anos a cultivar uma relação profunda com o regime do Apartheid na África do Sul.

Para Yair Auron, investigador sobre genocídio na Universidade Aberta de Israel, a venda de armas a Myanmar, por exemplo, deve ser comparada ao envio de armamento para a Alemanha nazi durante o Holocausto. "Estas vendas transformam-me e a todos os israelitas em criminosos, porque são enviadas em nosso nome. Estamos a apoiar genocídio."
 

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